Após
algumas semanas fora de Salvador e sadiamente desconectado de muitos sistemas
virtuais, um deles o blogspot, estou de volta às minhas atividades corriqueiras
de dia a dia. Contrariamente ao que eu imaginava a aposentadoria não pôs fim
ao direito de férias, sabendo dividir as atividades da vida teremos férias enquanto existirmos.
Passei
40 dias em Recife, de férias. Escolhi o período que incluísse o carnaval. Recifense, que sou, morando há 37 anos em Salvador, havia 30 não passava essa
folia em Recife. Acreditava que iria matar as saudades dos anos que brincava
por lá, qual o que, na realidade fui conhecer o carnaval de Recife. Tudo muito
modificado, o carnaval de hoje em dia do Recife é muito vibrante e variado. A
cidade se torna decorada, não só pelos enfeites e alegorias das ruas mas pelas
fantasias dos foliões, as pessoas são literalmente parte da decoração, elas não
só brincam a folia, elas definitivamente fazem parte da festa. Devido a esta
participação das pessoas como construtoras do evento o carnaval recifense
apresenta grande diversidade de local e forma, espalha-se por vários lugares, expressa-se com vários rostos, um grupo de maracatus ou
caboclinhos, um bloco lírico, uma bateria, um grupo de pessoas fantasiadas com
uma pequena banda, ou mesmo sem banda, desfilando na rua, tudo isso é carnaval,
um grupo de amigos vestindo algo engraçado brincando ao redor de uma mesa,
também. Diferentemente das outras capitais o carnaval da capital pernambucana,
não se define com o um grande show, é uma oportunidade para quem quiser se
divertir com os amigos de uma forma alegre e irreverente faze-lo, os shows, que obviamente estão presentes, não
são o carnaval, são apenas uma das suas expressões.
Devido
a esta capilaridade o carnaval de Recife não tem um local definido, o marco
zero, o Recife antigo, ainda que sejam os pontos principais, dividem a festa
com muitos outros bairros de onde saem desfiles de blocos e troças.
Um dos
bairros onde acontecem muitos desfiles, especialmente na semana
pré-carnavalesca, é Casa Forte e seus arredores, Poço da Panela e Parnamirim.
O
primeiro bloco que conheci foi no dia 23 de janeiro, um sábado. É um bloco para
crianças, uma bandinha que fica girando ao redor de uma praça próxima a
Parnamirim, na qual há um bar onde os pais das crianças bebericam com amigos
enquanto seus rebentos pulam no “Vem Comer Papinha”, a brincadeira começa ao
meio dia e estende-se pela tarde.
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Minha irmã, Marina, com o neto no bloco "Vem Comer Papinha" |
Alguns
blocos não abrem mão de ensaios, e alguns aproveitam o momento para fazerem uma
festa para o público. É o caso do Bloco "Paraquedistas Real", que saiu na rua
Real do Poço no dia 03 de fevereiro e no dia 27 de janeiro fez um ensaio aberto
no bar Real, tradicional ponto de encontro em Casa Forte que no período
carnavalesco é uma opção para seus clientes tradicionais e outros que vem a
reboque da folia.
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Minha irmã e eu no "Bloco Paraquedista Real" |
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Minha irmã e o esposo, Cláudio. |
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Em companhia dos meus primos Ana e Romero e uma amiga. |
O
tradicional Galo da Madrugada, também não se limita ao seu desfile nas ruas do
centro no sábado de Carnaval, no dia 28 de janeiro, tive a alegria se ser
levado para conhecer a Quinta do Galo, um evento noturno na sede do bloco, localizado
em uma praça no centro da cidade; imperdível: orquestra, apresentações folclóricas,
desfile de fantasias por entre as mesas, fantástico. Este evento ocorre o ano
inteiro, sempre as quintas na sede do Galo da Madrugada, recomendo muitíssimo a
quem for a Recife fora da época de carnaval e quiser conhecer um pouco da magia
da festa.
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Maracatus na entrada da sede do Galo |
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Idem |
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Com Lilia, que me convidou para a quinta no Galo |
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Fantasias na Quinta do Galo |
No dia
30 de janeiro, Casa Forte ofereceu tantos eventos que não pude ir a todos,
começando pela tarde tive a chance de conhecer o Bloco "Os Barba" (sem “s” mesmo)
no Poço da Panela, o Bloco "Pisando na Jaca", na praça de Casa Forte e terminei a
noite no Bar Real ao som de uma formidável bateria: Os Patuscos.
No dia d' "Os Barba", tem um evento interessante, todos os anos um grupo planta um baobá na beira do rio Capibaribe que corre próximo ao bairro. Desloca-se em comitiva, no local declama-se uma poesia a árvore e com todo cuidado ele é plantada!
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Com primos no bloco "Os Barba" |
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Idem |
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Tradicional plantio de baobá no dia do Bloco "Os Barba" |
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Grupo de Medusas no bloco "Pé na Jaca" |
Fiquei
todo o período hospedado em Boa Viagem, fundamentalmente por conta da praia, lá
também o carnaval se faz presente por meio de blocos, acompanhei, no dia 31 de
janeiro, o "Bloco da Gia" (com “G”, como falei uma das marcas do carnaval de Recife é a
irreverência).
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Bloco da Gia |
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Acompanhado de "baiambucanas" no "Bloco da Gia". |
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Idem |
Um dos
pontos altos do carnaval de Recife é abertura oficial que ocorre nas sextas
feiras, nesta ano dia 05 de fevereiro. É muito bonito, desfile de blocos de
maracatus e caboclinhos que se concentram
na praça do marco zero e lá são regidos em conjunto pelo músico Naná de
Vasconcelos. Estes blocos são, em sua maioria, originários de bairros da
periferia, Naná durante o ano inteiro faz uma peregrinação pelas comunidades
ensaiando cada um dos blocos, é muita dedicação.
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Maracatus |
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Em companhia do amigo Roberto |
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Palco da abertura |
O
carnaval de Recife não é um show, onde você possa alugar um camarote e ficar
assistindo, para aproveita-lo tem que se meter entre o povo no meio da rua,
sentar nas mesas dos bares, tirar fotos com os foliões, que adoram ser
fotografados. Entrando um pouco nesta característica de show, há o desfile do
Galo da Madrugada pela avenida Dantas Barreto no sábado, esse ano dia 06 de
fevereiro, lá se montam camarotes para quem quiser pagar assistir o desfile de
trios, não tenho muito a comentar sobre isso, uma vez que não fui a camarote,
meu objetivo carnavalesco era outro, afinal eu moro em Salvador, que em matéria
de trios e camarotes não tem concorrência.
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Galo da Madrugada
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Com o amigo Marcos. |
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Galo da Madrugada |
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Galo da Madrugada |
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Galo da Madrugada |
No
domingo dia 07 de fevereiro, um amigo me convidou para ir até a cidade de
Bezerros, 110 km de distância de Recife, lá ocorre um evento chamado Papangus.
Os Papangus, são pessoas fantasiadas e mascaradas de forma a esconder todo o
corpo, é uma tradição da cidade, que tem na sua origem o fato destes mascarados
saírem pela cidade de manhã cedo, pedindo comida nas casas, e as pessoas
preparavam angu pra lhes dar, daí a origem do nome. Hoje a festa é imensa, são
dezenas de fantasias, tem até concurso e evidentemente ninguém come mais angu.
Vale muito a pena, pois são belas fantasias.
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Na companhia de Papangus e Chico, o amigo que me convidou |
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Fantasia |
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Fantasia |
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Fantasia |
O
tradicional bairro da Boa Vista também tem eventos marcantes, na terça feira
dia 08, me levaram até o mercado da Boa Vista, lá ocorre uma grande
concentração de foliões que compram bebida e comida dos diversos boxes que
compõem do mercado. De uma praça Próxima, camada Largo de Santa Cruz sai o "Bloco do Nada", após as folias da Boa Vista, fui novamente ao Recife Antigo para
apreciar os blocos líricos.
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Boa Vista, com Roberto, grande amigo que me levou a vários locais |
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Blocos Líricos |
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Blocos Líricos |
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Blocos Líricos |
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Bloco de 1 participante! |
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Bloco Cinzas das Horas. sai no fim da noite de terça feira. Pessoa fantasiadas de vampiros, mortos-vivos e coisas assim |
O
carnaval de Recife é isso, saber onde estão os eventos, onde ocorrem as apresentações,
onde mora a irreverência. Não espere algo do tipo - o carnaval é aqui; não existe este
aqui. Utilizando uma metáfora que
gosto muito, o carnaval de Recife não é um álbum de fotografias, que basta olhar
para ver, é um livro, para ver tem que ler, e a leitura é imperdível!