segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Folia Recifense


Após algumas semanas fora de Salvador e sadiamente desconectado de muitos sistemas virtuais, um deles o blogspot, estou de volta às minhas atividades corriqueiras de dia a dia. Contrariamente ao que eu imaginava a aposentadoria não pôs fim ao direito de férias, sabendo dividir as atividades da vida teremos férias  enquanto existirmos.
Passei 40 dias em Recife, de férias. Escolhi o período que incluísse o carnaval. Recifense, que sou, morando há 37 anos em Salvador, havia 30 não passava essa folia em Recife. Acreditava que iria matar as saudades dos anos que brincava por lá, qual o que, na realidade fui conhecer o carnaval de Recife. Tudo muito modificado, o carnaval de hoje em dia do Recife é muito vibrante e variado. A cidade se torna decorada, não só pelos enfeites e alegorias das ruas mas pelas fantasias dos foliões, as pessoas são literalmente parte da decoração, elas não só brincam a folia, elas definitivamente fazem parte da festa. Devido a esta participação das pessoas como construtoras do evento o carnaval recifense apresenta grande diversidade de local e forma, espalha-se por vários lugares, expressa-se com vários rostos, um grupo de maracatus ou caboclinhos, um bloco lírico, uma bateria, um grupo de pessoas fantasiadas com uma pequena banda, ou mesmo sem banda, desfilando na rua, tudo isso é carnaval, um grupo de amigos vestindo algo engraçado brincando ao redor de uma mesa, também. Diferentemente das outras capitais o carnaval da capital pernambucana, não se define com o um grande show, é uma oportunidade para quem quiser se divertir com os amigos de uma forma alegre e irreverente faze-lo,  os shows, que obviamente estão presentes, não são o carnaval, são apenas uma das suas expressões.
Devido a esta capilaridade o carnaval de Recife não tem um local definido, o marco zero, o Recife antigo, ainda que sejam os pontos principais, dividem a festa com muitos outros bairros de onde saem desfiles de blocos e troças.
Um dos bairros onde acontecem muitos desfiles, especialmente na semana pré-carnavalesca, é Casa Forte e seus arredores, Poço da Panela e Parnamirim.
O primeiro bloco que conheci foi no dia 23 de janeiro, um sábado. É um bloco para crianças, uma bandinha que fica girando ao redor de uma praça próxima a Parnamirim, na qual há um bar onde os pais das crianças bebericam com amigos enquanto seus rebentos pulam no “Vem Comer Papinha”, a brincadeira começa ao meio dia e estende-se pela tarde.
Minha irmã, Marina, com o neto no bloco "Vem Comer Papinha"
Alguns blocos não abrem mão de ensaios, e alguns aproveitam o momento para fazerem uma festa para o público. É o caso do Bloco "Paraquedistas Real", que saiu na rua Real do Poço no dia 03 de fevereiro e no dia 27 de janeiro fez um ensaio aberto no bar Real, tradicional ponto de encontro em Casa Forte que no período carnavalesco é uma opção para seus clientes tradicionais e outros que vem a reboque da folia.
Minha irmã e eu no "Bloco Paraquedista Real"
Minha irmã e o esposo, Cláudio.
Em companhia dos meus primos Ana e Romero e uma amiga.
O tradicional Galo da Madrugada, também não se limita ao seu desfile nas ruas do centro no sábado de Carnaval, no dia 28 de janeiro, tive a alegria se ser levado para conhecer a Quinta do Galo, um evento noturno na sede do bloco, localizado em uma praça no centro da cidade; imperdível: orquestra, apresentações folclóricas, desfile de fantasias por entre as mesas, fantástico. Este evento ocorre o ano inteiro, sempre as quintas na sede do Galo da Madrugada, recomendo muitíssimo a quem for a Recife fora da época de carnaval e quiser conhecer um pouco da magia da festa.
Maracatus na entrada da sede do Galo 
Idem
Com  Lilia, que me convidou para a quinta no Galo
Fantasias na Quinta do Galo
No dia 30 de janeiro, Casa Forte ofereceu tantos eventos que não pude ir a todos, começando pela tarde tive a chance de conhecer o Bloco "Os Barba" (sem “s” mesmo) no Poço da Panela, o Bloco "Pisando na Jaca", na praça de Casa Forte e terminei a noite no Bar Real ao som de uma formidável bateria: Os Patuscos.
No dia d' "Os Barba", tem um evento interessante, todos os anos um grupo planta um baobá na beira do rio Capibaribe que corre próximo ao bairro. Desloca-se em comitiva, no local declama-se uma poesia a árvore e com todo cuidado ele é plantada!
Com primos no bloco "Os Barba" 
Idem 
Tradicional plantio de baobá no dia do Bloco "Os Barba"
Grupo de Medusas no bloco "Pé na Jaca"
Fiquei todo o período hospedado em Boa Viagem, fundamentalmente por conta da praia, lá também o carnaval se faz presente por meio de blocos, acompanhei, no dia 31 de janeiro, o "Bloco da Gia" (com “G”, como falei uma das  marcas do carnaval de Recife é a irreverência).
Bloco da Gia
Acompanhado de "baiambucanas" no "Bloco da Gia".
Idem
Um dos pontos altos do carnaval de Recife é abertura oficial que ocorre nas sextas feiras, nesta ano dia 05 de fevereiro. É muito bonito, desfile de blocos de maracatus e caboclinhos  que se concentram na praça do marco zero e lá são regidos em conjunto pelo músico Naná de Vasconcelos. Estes blocos são, em sua maioria, originários de bairros da periferia, Naná durante o ano inteiro faz uma peregrinação pelas comunidades ensaiando cada um dos blocos, é muita dedicação.
Maracatus
Em companhia do amigo Roberto
Palco da abertura
O carnaval de Recife não é um show, onde você possa alugar um camarote e ficar assistindo, para aproveita-lo tem que se meter entre o povo no meio da rua, sentar nas mesas dos bares, tirar fotos com os foliões, que adoram ser fotografados. Entrando um pouco nesta característica de show, há o desfile do Galo da Madrugada pela avenida Dantas Barreto no sábado, esse ano dia 06 de fevereiro, lá se montam camarotes para quem quiser pagar assistir o desfile de trios, não tenho muito a comentar sobre isso, uma vez que não fui a camarote, meu objetivo carnavalesco era outro, afinal eu moro em Salvador, que em matéria de trios e camarotes não tem concorrência.
Galo da Madrugada 

Com o amigo Marcos.
Galo da Madrugada 
Galo da Madrugada  
Galo da Madrugada 
No domingo dia 07 de fevereiro, um amigo me convidou para ir até a cidade de Bezerros, 110 km de distância de Recife, lá ocorre um evento chamado Papangus. Os Papangus, são pessoas fantasiadas e mascaradas de forma a esconder todo o corpo, é uma tradição da cidade, que tem na sua origem o fato destes mascarados saírem pela cidade de manhã cedo, pedindo comida nas casas, e as pessoas preparavam angu pra lhes dar, daí a origem do nome. Hoje a festa é imensa, são dezenas de fantasias, tem até concurso e evidentemente ninguém come mais angu. Vale muito a pena, pois são belas fantasias.
Na companhia de Papangus e Chico, o amigo que me convidou 
Fantasia
Fantasia 
Fantasia
O tradicional bairro da Boa Vista também tem eventos marcantes, na terça feira dia 08, me levaram até o mercado da Boa Vista, lá ocorre uma grande concentração de foliões que compram bebida e comida dos diversos boxes que compõem do mercado. De uma praça Próxima, camada Largo de Santa Cruz sai o "Bloco do Nada", após as folias da Boa Vista, fui novamente ao Recife Antigo para apreciar os blocos líricos.

Boa Vista, com Roberto, grande amigo que me levou a vários locais
Blocos Líricos 
Blocos Líricos
Blocos Líricos
Bloco de 1 participante!
Bloco Cinzas das Horas. sai no fim da noite de terça feira.
Pessoa fantasiadas de vampiros, mortos-vivos e coisas assim
O carnaval de Recife é isso, saber onde estão os eventos, onde ocorrem as apresentações, onde mora a irreverência. Não espere algo do tipo - o carnaval é aqui; não existe este aqui. Utilizando uma metáfora que gosto muito, o carnaval de Recife não é um álbum de fotografias, que basta olhar para ver, é um livro, para ver tem que ler, e a leitura é imperdível!