segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Caminhar, Correr, Pedalar!

“Se tens um limão, faças uma limonada!”
O limão de não ser possível ingressar em uma academia rendeu numa excelente limonada. Lyon é uma cidade excelente para caminhar, correr e pedalar. Suas calçadas de beira de rio estendem-se por quilômetros, boa extensão delas está repleta de praças e pequenos parques, restaurantes, bares,  árvores, trilhas, áreas de pesca, pequenas praias. Por conta de tantas opções estão sempre cheias de praticantes de esportes, famílias caminhando, pessoas simplesmente sentadas em bancos lendo, olhando a paisagem, o movimento e, claro, “futucando” o celular. Aliás essa história de celular me fez observar uma coisa na Europa de um modo geral e obviamente também em Lyon: antigamente entrava-se em um ônibus, ou observava-se uma praça, via-se um monte de gente com um livro na mão, hoje cada um tem um celular. Uma  mudança que não deixa de ser preocupante!
Além das margens dos rios, é possível correr em parques, e também pela cidade, várias vezes atravessei o centro de Lyon indo de um rio a outro, as faixas de ciclovias são muitas, as praças e calçadas facilitam as corridas e como são atividades largamente praticadas pelos habitantes, ninguém acha estranho ou se sente incomodado com a passagem de um corredor ou um ciclista.
As ciclovias se estendem por toda cidade, nas ruas onde elas não existem, sem problemas pedalamos na mesma direção dos carros e vamos em frente. Os ciclistas devem obedecer as regras de trânsito como se fossem carros: sentido, semáforos, faixas de pedestres e principalmente não pedalar sobre calçadas – “Je ne roule pas sur le trottois” (Não pedalo sobre a calçada) – vemos escrito no pequeno painel sobre o guidão das bicicletas de aluguel. Sendo uma cidade com boa parte de sua área territorial plana, Lyon é ideal para  prática de corridas.
Grande parte da área peninsular de Lyon é um aterro do que já foi um dia região de charco, a confluência dos rios não era uma coisa arrumadinha como é hoje. Uma das principais praças de Lyon, onde ficam a prefeitura e o museu de Belas Artes, chama-se “Place des Terreaux” exatamente em referência ao ponto inicial da parte aterrada. Engraçado que a palavra “terreaux”, que significa barro, remete a “terreur”, que significa terror e, talvez não por coincidência, na época da primeira república, no período conhecido na história da França como “Le Terreur”, nesta praça ficava a guilhotina!
O grande inimigo de um cidadão dos trópicos que se disponha a correr em Lyon, e qualquer outra cidade diferente de seu paraíso climático, é o frio. Reparando as roupas dos corredores de lá e orientado pelo vendedor de uma loja da marca “Le Coq Sportif”, comprei um moletom especial para prática de esportes e, acreditando estar protegido, parti para as atividades a céu aberto mesmo nos dias frios. Qual não foi meu desengano, quando corremos aumentamos muito a nossa respiração e o ar que entra pelas nossas narinas é bem geladinho, resultado uma constante coriza totalmente fora de controle que tornava impossível para mim correr nos dias frios. Com o tempo vai melhorando, vamos nos acostumando, administrando as desvantagens e as vantagens, como por exemplo, o aumento da resistência física. Em temperaturas e humidade um pouco mais baixas suamos e cansamos muito menos, daí a corrida torna-se muito mais confortável. Quantas coisas para aprendermos e nos adaptarmos!
Estas são capturas de tela do programa de acompanhamento de corrida mostrando alguns dos meus percursos favoritos em Lyon. As gotas verdes indicam os pontos de partida e as vermelhas chegadas:

Corrida: de casa até a confluência

Corrida: de casa até o Parc de la Tête d'Or, retornando até bar na beira do Rhône - ninguém é de ferro

Corrida: Subida de morro entre 1 e 2,5 km. Dureza!


Corrida: desde o Parc de la Tête d'Or até o Parc de la Feyssine

Corrida: de casa a Île Barbe

Bicicleta: saindo dos limites de Lyon


E as maravilhosas paisagens:

Confluência

Praia interditada a banho 

Île Barbe

Île Barbe

Minha companheira

Vista do Rio

Praia aberta a banho

Lyon

Arredores de Lyon





segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Vamos malhar!!!

Uma estada de 3 meses em um lugar fora de nossa casa, torna necessário que transformemos este lugar em algo tão próximo quanto possível da nossa casa.

É importante que certos hábitos sejam reconstruídos, afinal não se trata de 2 semanas de férias onde queremos fazer tudo diferente, mas sim de viver a nossa vida em um outro lugar.

Um dos hábitos que tenho é a prática de exercícios, frequento academia e gosto de correr e pedalar, então logo na primeira semana uma das minhas iniciativas foi procurar uma academia para me matricular e frequentar.

Saímos, eu e Ailton, depois da aula, para visitar algumas academias que eu havia encontrado utilizando a pesquisa do Google Mapas. 

Dica: O Google mapas é uma grande ferramenta para quem está viajando, encontra-se praticamente tudo. Outro aplicativo muito bom é o maps.me, ele tem a vantagem de precisar da rede apenas para descarregar os mapas, depois funciona sem rede, apenas com GPS. Muito bom para quem não tem 3G, o que é comum quando estamos fora.

Selecionamos as academias a serem visitadas tomando como referência a distância até nossa casa ou até a Aliança.

Primeira academia: – “Bom dia! Por favor (nunca esqueça estas introduções na Europa), gostaríamos de conhecer o espaço e as condições de inscrição e uso da academia”, disse eu.

– “Bom dia! Esteja a vontade, me acompanhe por favor. Aqui ficam as esteiras, mais para lá as máquinas, temos acompanhamento por profissionais, é possível fazer testes de avaliação, blá, blá, blá.”. Dizia o atendente relatando em fim, tudo que se pode informar para um potencial aluno, enquanto apontava cada uma das coisas.

Era uma academia pequena, bem equipada e limpa, em um local agradável na avenida que beira o rio Ródano e perto de casa. Adorei!

– “Gostei muito daqui, quero freqüentar a academia. Quais as condiçoes?”

– “Nossos preços são excelentes se comparados com os mesmos serviços prestados em outras academias, etc -  mais costumeiros blá, blá blá”. 

– “Não temos planos para 3 meses apenas para 6 e 12, teria que ser no sistema avulso, o que fica mais caro”. 

– “Que pena”. Disse eu

– “Hum, espere aí, vou ver o que posso fazer”. Muito gentil o rapaz.

Clic, clic, clic fazia o teclado enquanto ele consultava o computador: – Bom, dá para fazer um plano de € 150,00. € 50,00 na inscrição e mais 2 mensais de € 50,00. No ato da inscrição tem mais € 20,00 (ou € 30,00, uma taxa que não lembro mais o que era, o que faria um total de € 170,00 ou € 180,00). Isso lhe dará o direito de frequentar todos os dias, em qualquer horário que a academia esteja aberta: das 7:00 as 20:00”.

Fiz minhas conversões para reais a fim de comparar com o valor que pagava aqui e cheguei a conclusão que, claro, apesar de mais caro, era um bom preço, considerando um contrato de curta duração. – “Perfeito! É o que eu quero!” Disse eu animadíssimo, pensando que já teria um lugar para as minhas atividades físicas! 

– “Então pronto, só preciso do número da sua conta bancária.” Me disse ele, feliz por obter mais um aluno.

– “Não tenho banco aqui, só vou passar 3 meses”.

– “É necessário uma conta bancária para fazermos a cobrança mensal. Não precisa ser sua, serve a conta de um amigo”. Insistiu ele.

– “Não tenho amigos aqui para pedir um favor deste, mas não tem problema, como são só 3 meses, pago todo o período adiantado, não será necessário cobrança mensal e o risco é todo meu”. Expliquei.

– “Não pode, tem que ter uma conta num banco francês”. 

– “Desculpe, não falo francês muito bem, não devo ter me explicado direito: vou pagar os 3 meses agora, a vista, em dinheiro”. Contestei, acreditando tratar-se de um problema de comunicação.

– “Nenhum problema em compreende-lo, o senhor fala francês com um belo sotaque, de onde vem?

– “Brasil (KKKKK! Belo sotaque - pode? O que esse pessoal não faz para vender)

– “Eu entendi perfeitamente, infelizmente não pode ser feito assim, tem que ser por meio de um banco”. Confirmou o atendente com uma expressão meio desolada.

Por mais atônito que eu estivesse, sem conseguir entender o porque, não me restou opção a não ser agradecer e sair.

Fomos em mais 2 outras academias, e a história, acreditem, se repetiu.

Finalmente na quarta tentativa encontramos uma que aceitava receber o pagamento antecipado em dinheiro. Mas, meu Deus, a academia era um bagaço. Saí de lá, me sentindo meio desconfiado, dizendo que iria providenciar o dinheiro e voltaria.

Já na rua falei com Ailton: – “Cara, to achando essa academia muito derrubada, que é que tu achas?”

Ailton me olhou com um sorriso e disse: – “Olha como você tava muito animado, não quis falar nada, mas isso aí é uma espelunca!”

Ele tinha total razão, desisti!

Essa burocracia absurda me deixou intrigadíssimo. Como é possível, em um país de vanguarda, que uma coisa tão simples possa ser complicada ao extremo de ser inviabilizada?

Depois, conversando com a professora Isabelle sobre este fato ela me disse: “Este país é extremamente burocrático, tudo aqui é um labirinto de papéis e exigências que parecem impossíveis de serem vencidas. É um dos pontos fracos da competitividade da França”. Fiquei surpreso!

Esse inferno burocrático me foi confirmado por colegas que estavam lá há muito mais tempo e por isso alugaram apartamentos: – “É uma dificuldade para alugar e outra para devolver”.

Sem academia o que me restou foram as corridas, caminhadas e pedaladas, o que no fim se mostrou maravilhoso, pois conheci lugares muito bonitos ao redor de Lyon. Não podemos também esquecer que economizei € 170,00 (ou 180).

É impressionante a distância que se pode ir de bicicleta por lá, o limite é seu físico e seu tempo. A cidade oferece opções de caminhadas, corridas e pedaladas em beiras de rios e parques que são belíssimas. 

Os parques da cidade são extremamente frequentados, nos finais de tarde é possível ver vários grupos fazendo piqueniques, patins, skates e bicicletas de todos tipos: para família, criança, com reboque de carrinho, tudo. Também nas beiras dos rios fazem piqueniques. Afastando-se do centro as margens perdem as calçadas de cimento e pode-se  ver pequenas prainhas cercadas de árvores.

Lyon é uma cidade, que como Ailton e eu costumávamos dizer desfrutada pela população! As pessoas usam os espaços sem medos, o medo é que não encontra muito espaço em Lyon

Musée de la Confluence visto a partir
da margem oposta do Saône.

Vista de prédios modernos na região da confluência dos rios
com o centro ao fundo

Pista ao longo do Saône de onde tirei as fotos acima. 
Pode correr sem medo aqui!






segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Eu vou, eu vou, para aula agora eu vou...

Bom, após o reconhecimento do terreno estávamos prontos para ir a escola no dia seguinte.
As aulas começam as 9:00 horas, vão até as 12:00 com um intervalo de 15 min, por volta das 11:00.
A Aliança divide as turmas em níveis e sub-níveis selecionados de acordo com um teste de avaliação, que é feito pela internet no ato da inscrição. Eles fazem questão de deixar claro que remanejamentos não são possíveis uma vez que as turmas são montadas de acordo com o número de alunos em cada nível.
Os níveis (sub-níveis) são: A1(N1, N2), A2(N1, N2, N3), B1(N1, N2, N3), B2(N1, N2, N3, N4), C1(N1, N2, N3, N4), C2.
Ficamos em níveis separados, Ailton no nível A1N2 e eu no B2N2. Cada sub-nível dura 1 mês de aulas, a passagem de um sub-nível para outro é automática, terminou o mês, começa o nível seguinte, para passagem entre níveis é necessário se submeter a um teste, assim o meu amigo, que começou no último sub-nível do nível A1, logo após o primeiro mês já se submeteu a um teste para passar para A2, eu, tendo 3 sub-níveis para terminar o nível B2 (N2, N3, N4), só encarei teste ao término do terceiro mês, coincidindo com o fim da nossa temporada.
Criamos o hábito de apanhar o ônibus de 8:10 e chegar na Aliança as 8:25. Gostávamos de chegar cedo para ficarmos no salão lendo e conversando com outros alunos. Muito legal este tempo de meia hora para contatos com colegas.
Há na Aliança pessoas de vária nacionalidades, a campeã é a chinesa, outras bem representadas são americana e brasileira. Tinha muito brasileiro na época que estávamos lá.
Minha sala para o primeiro mês, onde cursei o B2N2, ficava no quarto andar, elevador apenas para os funcionários, há necessidade de uma chave para acionar o botão de abertura da porta de formas que só os professores e servidores podem aciona-lo. Aluno vai de escada. No começo achei injusto mas depois, analisando que há apenas um elevador, seria impossível atender tanta gente. Ailton ficou no terceiro andar.
As salas são simples e funcionais, a arrumação das mesas é em estilo “ferradura”, nenhuma aluno fica na frente de outro, o quadro na frente, projetor de PowerPoint, sistema de som para as aulas de compreensão oral.
O nível B2N2, parte do princípio que as pessoas que lá estão já falam francês e estão em um estágio de aprimoramento, isso faz das aulas seções um tanto quanto cansativas, pois a ênfase é gramática. Esta foi uma das minhas críticas na avaliação final: – “o teste que fazemos na internet de formas nenhuma garante que quem atende as exigências do B2N2 fale francês fluente,  fiz questão de me submeter ao teste sem estudar previamente, nem consultar livros ou dicionários durante execução do mesmo, por isso me sento totalmente a vontade para fazer esta crítica”.
O francês que a Aliança nos ensina é de uma perfeição acadêmica impecável, cheguei a comentar com a professora: – “as pessoas na rua não falam assim”. Ela me respondeu, – “não mesmo, nós fazemos muitas simplificações”. E tem mais que fazer, a estrutura da língua é muito elaborada, consegue juntar a dificuldade dos verbos do português e dos pronomes e preposições do inglês em uma mesma língua. Temos algumas aulas de francês coloquial e gírias (que são muitas, inclusive com influencias do árabe) definitivamente insuficiente.
Para termos uma ideia do que podemos ouvir de um jovem francês, seguem alguns exemplos:
1.   Tromé para metro
2.   Keuf ou flic  para policier
3.   Mec para homme
4.   Boulot para travail
5.   Manif para manifestation
E por aí vai.
Considerando tudo, uma coisa é certa, o curso foi muito proveitoso no sentido de aprendizagem da língua, por exemplo, assistir um telejornal foi se tornando cada dia mais fácil, pois eles falam um francês bem mais clássico, conversar com pessoas também, pois quando eles notam que se trata de um estrangeiro evitam um francês excessivamente coloquial. Tentar entender 2 ou mais pessoas, especialmente jovens, conversando em um metro, ônibus ou bar ... desista!
O curso é conduzido por mais de um professor, tem um professor que fica com a turma durante todo o nível, e dá aulas 3 vezes por semana, e um segundo professor, que fica com os outros 2 dias, este é substituído sempre que se troca de sub-nível. O primeiro eu identifiquei como “professor principal”, por mais que eles insistam que essa classificação não existe.
Minha professora principal chamava-se Isabelle, ela não era de Lyon, conhece muito bem os detalhes da língua francesa, fala inglês fluentemente morou 10 anos na Escócia, que ela considera ser sua a segunda terra e tem um conhecimento de espanhol e português suficiente para quando cometíamos algum erro ela poder dizer: – “você está pensando na sua língua, não existe esta construção em francês”. Isabelle é o tipo de professor que tem como prioridade absoluta ensinar, não está nem um pouco preocupada em demonstrações tipo: – “vejam como sei francês”, o que é típico dos professores inseguros, tem segurança suficiente para dizer – “não sei”. Sua competência ficava evidente no desenrolar da aula, paciência e exigência adequadas completavam as suas características didáticas.
Tivemos ainda 3 professores, um para cada mês, ficando com os outros 2 dias da semana: Lilliane, Remy e Fabien.
A experiência de aulas na Aliança Francesa foi muito útil e agradável, apanhar ônibus todos os dias, ter de voltar a pé quando tinha greves ou manifestações. Todo mês tinha alguma coisa. Conversando com os professores aprendemos que a Aliança fica no mesmo bairro, bem próximo, do prédio onde funciona a Préfecture, que não é o equivalente a nossa prefeitura, mas sim o representante do Governo central do país no município. Então todas as manifestações contra o Governo se dão neste bairro e para a avenida central por onde passam os ônibus. O interessante é que tem hora para início e fim das manifestações.
Como é prático e agradável ser possível confiar em horários. As aulas começam sempre na hora, assim como os transportes, e até na previsão da falta de falta de transporte, se pode confiar.
Minha turma, a brasileira não estava no meu último dia de aula,
quando esta foto foi tirada.
A professora desta foto é a Isabelle.

Transporte alternativo para ir a escola, ou qualquer lugar.

Meu diploma de conclusão!


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Conhecendo a escola


– Nossas aulas começam amanhã, é melhor irmos na escola hoje para aprendermos o caminho e também para conhecer melhor o lugar, ver se nossas inscrições estão corretas, essas coisa, me disse Ailton na véspera do início das aulas que se daria no dia 2 de abril de 2015.
– Boa ideia vamos lá. O ônibus C14 nos deixará na porta, o proprietário do apartamento me disse.
Sabíamos onde era a escola, já a havíamos visitado em outubro de 2014, naquela  oportunidade fomos a pé, não seria difícil identificar o ponto de descida, além do que o aplicativo TCL nos dava todas as informações necessárias, até mesmo o nome do ponto.
Ao descermos do ônibus e olharmos ao redor tivemos alguma dificuldade em encontrar o prédio, o que foi facilmente resolvido pedindo ajuda a alguém na rua. 
Dica: não acreditem nessa história de que francês detesta dar informações, francês detesta ser abordado sem educação, como por exemplo ouvir um “do you know...?” sem nem ao menos ser precedido por um bon jour.
 L’Alliance Française, fica no número 11 da rua Pierre Bourdan, 3me Arrondissement de Lyon. É um bairro muito habitado por árabes, consequentemente é bem servido de lojas de todos os tipos, restaurantes e cafés por todos os lados. É um bairro extremamente tranquilo. Ah, esqueci das barbearias que se encontram espalhadas pelas redondezas. Só vi barbeiros árabes em Lyon.
Na realidade a população árabe é muito grande em Lyon, por exemplo, a maioria dos motoristas de ônibus, donos de quitandas, de açougues, coisas deste tipo são árabes. Quando digo árabe, bem entendido que não sei se são filhos de árabes nascidos na França, eles não se misturam muito e mantem os costumes da terra dos pais. Observação: Nenhum deles nunca tentou me passar a perna em um troco ou qualquer outra coisa.
– Bem, Thomas é aqui, esta praça é a nossa referencia, me disse o Ailton, ao avistarmos a grande construção cinza.
O prédio da Aliança fica próximo a uma praça a qual atravessávamos todos os dias, há uma escola grande na mesma praça, o que fazia com que víssemos muitas crianças todos os dias pela manhã e pudemos observar uma coisa: a criançada toda misturada, franceses loirinhos, árabes, negros, tudo. Depois ficamos sabendo que a esmagadora maioria das escolas são públicas e gratuitas, então todo mundo estuda junto. Que legal!
A Aliança Francesa está instalada em um prédio grande e bonito, de 4 andares, as salas de aula são do tamanho adequado para o número de alunos máximo permitido: 18 por turma. O andar térreo é dedicado principalmente a secretaria e um grande salão onde a estudantada fica esperando o horário de aula, há uma pequena saleta com máquinas de café, sempre com fila nos intervalos.
Ainda no térreo, há um mural onde são mostradas as listas de cada turma com os nomes dos alunos, eu e Ailton encontramos nossos nomes lá, indicando a turma, andar e sala. As salas são identificadas por nomes de países, nem eu nem Ailton estudamos na sala Brasil, que ficava no primeiro andar, em nenhum dos períodos que lá estivemos.
Na secretaria providenciamos logo nossas carteiras de estudantes, descobrimos depois que ela só serviria como documento de identificação, o que foi muito bom, uma vez que não precisamos de passaportes nem para viagens de trem no território francês. Descontos existem apenas para estudantes  menores de 21 (ou 28, não lembro direito, em todo caso estávamos muito acima) anos, maior que isso – inteira para tudo!
A regra da casa é: dentro das instalações da Aliança só se fala francês! Exceção para a secretaria quando atendendo “les débutants” – os iniciantes. A regra é constantemente desrespeitada, ouve-se literalmente todas as línguas no salão, até que chegue um professor e diga: “parlez français”!
No dia seguinte começaríamos as aulas.

Rua da Aliança francesa de Lyon
Seta indicando o portão de entrada
Praça com o prédio
ao fundo
Jardim com porta de
acesso ao fundo