quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mais uma vez, Nosso Futuro...o que queremos?

O artigo de Leonardo Boff volta a um assunto que está se tornando recorrente, todos falam e todos se dizem muito preocupados com os efeitos das nossas ações depredadoras sobre o planeta.
A sabedoria de Leonardo Boff nos faz pensar claramente nas responsabilidades do governo e principalmente do capital com relação ao futuro do planeta.

Faz-nos pensar também na nossa responsabilidade, cada um de nós individualmente. O que seriam das empresas e do capital sem nós? Que dinheiro eles conseguiriam se não comprássemos seus produtos? O que além do preço e o preenchimento da nossa necessidade nos leva a decidir comprar ou não um produto?

Nos perguntamos onde é feito, que matérias primas utilizam, como tratam seus funcionários?

Podemos começar ainda antes: o que eu necessito? O que eu adquiro apenas por prazer?

Por exemplo, quantos carros nós precisamos e quantos são necessários para preencher o nosso conforto? Nós que temos carros lutamos por um transporte público melhor? Ou simplesmente dizemos: “eu adoraria poder usar ônibus, mas é tão ruim, graças a Deus tenho carro”.

Cada vez que fazemos um churrasco pensamos na área desmatada para produzir tanta carne? Se fizéssemos pratos com carne com certeza além de uma melhor combinação para a nossa saúde também diminuiríamos as áreas desmatadas. O desperdício de um churrasco é um horror!

E viagens? Cada vôo é uma catástrofe ambiental, no entanto estamos cada vez mais lotando aeroportos. E uma viagem de carro?

O interessante é que pressionamos o governo por aeroportos e estradas maiores e melhores. Não pressionamos por uma recuperação da malha férrea. Temos uma das maiores costas do mundo e não utilizamos barcos.

Será que não estaria na hora de pedirmos menos aeorportos, menos estradas e mais transportes de grande capacidade de deslocamento de pessoas, tipo trens, navios, etc?

Com certeza o capital e o governo têm muito a fazer, mas não podemos esquecer que tudo que eles fazem, é usado ou escolhido por nós, democracia é para isso, para dizermos ao governo o que queremos que seja feito, como queremos que a sociedade seja conduzida. E o capital, bem este só faz se dissermos: "faça isso que eu te pago".

Quando lemos ou ouvimos sobre este tema, a primeira coisa que nos vem a mente é: "mas isto é tão óbvio". Este é o grande perigo, quanto maior o óbivio em algo, menos óbvio este algo é.

Não tem outrea saída, teremos que mudar nossa forma de vida, por mais gostosa que ela seja. E mudaremos, só resta saber a força que nos fará mudar: o Amor, ou a Dor.

Por isso a mudança jamais partirá das empresas ou governos, estes são entes incorpóreos, não sentem nem uma coisa nem outra.

A coisa toda está em nossas mãos

Muita Paz,

Thomas.

Texto de Leonardo Boff.


Já existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública.

O acúmulo de desastres sócio-ambientais ocorridos nos últimos tempos, com desabamentos de encostas, enchentes avassaladoras e centenas de vítimas fatais junto com a destruição de inteiras paisagens, nos obrigam a pensar na instauração de uma lei nacional de responsabilidade sócio-ambiental, com pesadas penas para os que não a respeitarem.


Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não vivem num mundo a parte: são inseridas numa determinada sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida.

Mas fique claro: responsabilidade social não é a mesma coisa que obrigação social prevista em lei quanto ao pagamento de impostos, encargos e salários; nem pode ser confundida com a resposta social que é a capacidade das empresas de se adequarem às mudanças no campo social, econômico e técnico. A responsabilidade social é a obrigação que as empresas assumem de buscar metas que, a meio e longo prazo, sejam boas para elas e também para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.

Não se trata de fazer para a sociedade o que seria filantropia, mas com a sociedade, se envolvendo nos projetos elaborados em comum com os municípios, ONGs e outras entidades.
Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso, sempre que os negócios não são tão rentáveis, diminui ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros das carteiras e portofólios que controlam. Não vêem outra responsabilidade, senão a de garantir ganhos.


Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui o ambiental. São poucos os que perceberam a relação do social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas empresas e cada um de nós vivemos no chão, não nas nuvens: respiramos, comemos, bebemos, pisamos os solos, estamos expostos à mudanças dos climas, mergulhados na natureza com sua biodiversidade, somos habitados por bilhões de bactérias e outros microorganismos. Quer dizer, estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm sempre juntos.

Isso que parece óbvio, não o é para a grande parte das pessoas. Por que excluímos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer dizer, pensamos apenas em nós próprios. A natureza é exterior, posta ao nosso bel-prazer.


Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos bilhões e litros de agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera, anualmente, cerca de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos o declive das montanhas que podem desmoronar e matar pessoas nem observamos o curso dos rios que nas enchentes podem levar tudo de roldão.


Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos nos asseguram: Todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e por isso tem direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão de democracia que então passa a ser uma democracia sócio-ambiental. A natureza e as coisas dão-nos sinais. Elas nos chamam atenção para os eventuais riscos que podemos evitar.
Não basta a responsabilidade social, ela deve ser sócio-ambiental. É urgente que o Parlamento vote uma lei de responsabilidade sócio-ambiental imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim evitaremos tragédias e mortes.


Leonardo Boff é Filósofo e Teólogo
EcoDebate, 24/01/2011

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