domingo, 12 de dezembro de 2010

AJUDANDO O PODER PARALELO

Este artigo intitulado “Eu ajudei a destruir o Rio”, que recebi por e-mial, é extremamente emblemático e caracteriza muito bem a realidade de como o mal se alimenta da hipocrisia. Os religiosos afirmam que a ferramenta do diabo é a mentira. E é verdade. O diabo existe? Depende do que chamamos de diabo. Sempre que nos separamos do todo e colocamos os nossos interesses acima dos outros o diabo está conosco e sempre que negamos as nossas fraquezas e mentimos para todo mundo, incluindo nós mesmos, o diabo está conosco.
Se pensarmos no diabo como a nossa capacidade de gerar prazer para nós à custa de sofrimento para outros ele existe sim. E é mais ou menos como costumamos dizer: Deus está em toda parte, e o diabo nos detalhes.
Enquanto oxigenarmos o crime com as nossas atitudes, estaremos ajudando não apenas a destruir o Rio, mas minando a nossa sociedade. Os criminosos são poucos, nós somos milhões, cada pequena ação nossa é milhares de vezes somada até se transformar em poder nas mãos destes poucos. Não adianta dizer: “é só uma besteirinha, não tem peso nenhum”, tem sim, tudo tem peso, uma tonelada nada mais é que um milhão de gramas, a distância daqui até a Lua pode perfeitamente ser expressa em milímetros.
Tudo que fazemos é importante.
Apesar do artigo ser voltado para os jornalistas e artistas, é claro que não são só eles, a desgraça da senzala nasce na casa grande.
Thomas,
Muita paz.

VERDADE PURA E CRISTALINA
Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília... critica o cinismo dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas.
Guedes desafia a todos que tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir : "Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro". Leia o artigo na íntegra.
Eles ajudaram a destruir o Rio.
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barezinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamoroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco. Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca e brasileira, por extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.
Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios
ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta.
E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose
diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacueras,
que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império,
tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem
ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é
proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos
assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem.
Não têm controle sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam
futuros.
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes:
"EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO!"

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