domingo, 28 de novembro de 2010

GUERRA E PAZ

Leon Tolstói criou um dos mais longos romances(?) da história descrevendo os horrores das guerras Napoleônicas na Rússia, o livro dentre muitas coisas mostra a fragilidade da nossa vontade, dos nossos conceitos éticos/maniqueístas: certo-errado, feio-bonito, bom-mau; em face do determinismo histórico. Churchill dizia que a guerra não é a pior coisa, a escravidão é muito pior.


Existem momentos na história quando uma sociedade deve decidir o que não quer abrir mão para preservar algo denominado paz. É paz vivermos sem tiros e sob o domínio de um grupo de pessoas, que se auto-proclamam “chefe” e que efetivamente trabalham como ditadores sem nenhum tipo de controle, um absolutismo desfrutado por poucos déspotas da história? É paz vermos nossas crianças serem condenadas a uma vida cujo único horizonte é um dia ser um “bom bandido” e viver até 25 anos? Isto é literalmente matar inocentes. Quantos são mortos desta forma? Podemos dizer que estas crianças nascem mortas. Não, isso não é paz, é escravidão!


Estamos vivendo um momento desta natureza na nossa sociedade. O que vemos no Rio, sem preocupações com rótulos, como tão bem falou o oficial Paulo Henrique Moraes: “rótulos é para quem vai contar a história” e eu acrescento: "ou produzir reality show"; é uma guerra contra um poder paralelo, instalado nas favelas daquela cidade. Um poder do mal, e se alguém tinha dúvida se ele era “bom” para as comunidades “protegidas” por ele, creio que foram dirimidas diante de como as pessoas estão sendo tratadas por estes “anjos”: Expulsos de sua casas para dar abrigo aos bandidos, sendo obrigados a esconde-los, ameaçados, tornados reféns; vivendo um terror de fazer inveja a França pós revolucionária sob o comando de Robespierre.


Bandido não protege ninguém, se podemos esperar alguma proteção, esta só poderá vir do Estado, e é para garantir que a sociedade possa ter cada vez mais certeza que o Estado trabalhará efetivamente em prol da sua segurança e bem estar que lutamos tanto para termos uma democracia.


Inocentes sofreram e sofrerão com esta guerra, infelizmente não há guerra sem sofrimento de inocentes, a guerra é sempre um mal, mas, lembrando Churchill, por incrível que pareça, pode ser um mal menor, com duração previsível, e necessário para evitar males maiores e sem horizonte do fim.


O Estado Brasileiro tem obrigação de afirmar sua autoridade em todo território nacional, isto é o mínimo que a sociedade espera dele, não é admissível conviver-se com áreas de exclusão no seio da sociedade, áreas onde as pessoas que lá vivem estão à margem da democracia.


A operação era necessária e, ao que parece, foi uma vitória, parabéns a todos que atuaram.


Bom, o morro do Alemão está tomado, e daí?


O Rio é uma cidade, este problema existe em várias outras, aqui em Salvador, onde a segurança se tornou um problema gravíssimo, creio mesmo que pior do que lá, já existem favelas onde a polícia não entra, ou seja, temos os nossos “morros do Alemão”, o mesmo em Belém, Fortaleza, Maceió etc.


Outra coisa, vamos punir apenas os traficantes das favelas? Sabemos que os “grossos calibres”, os que realmente ganham dinheiro com o tráfico de drogas, moram muito bem em bairros grã-finos. As leis e a aplicação das leis vão continuar como até hoje?


Se considerarmos que a guerra acabou no complexo do alemão, efetivamente estamos perdidos. Temos agora uma responsabilidade maior, não podemos deixar que este sofrimento provocado em nome de resolver o problema seja perdido.


Libertar o morro do alemão foi uma batalha importante ganha, perdê-lo de volta será a derrota, não de uma batalha, mas da guerra.

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