Thomas Hutchinson: ATÉ UM DIA LYON

Um dia é o dia de partir, e como todos os dias ele sempre chega!

No dia 25 de junho de 2015, assisti ao último anoitecer pela varanda da nossa casa em Lyon, como o sol se punha muito tarde naquela época do ano, por volta das 21:00, pude contemplar meu rio, com suas calçadas, e o casario do outro lado, pelo tempo que me fizesse satisfeito. Creio que este tempo não se completou até hoje, pois ainda agora assim que liguei o computador olhei a imagem que sempre vejo quando faço esta operação: a foto da paisagem da minha varanda lionese que defini como proteção de tela e, pelo menos por enquanto, não tenho nenhuma vontade de troca-la.

Nunca imaginei que desde 31 de abril até 26 de junho o tempo pudesse ser tão curto.

Nasci e cresci com uma cidade em meu coração, depois de adulto entrou uma segunda e hoje abrigo três, como sou uma pessoa abençoada. Muito agradeço poder amar tantos lugares.

No dia 26, partimos, Conceição, Lula e eu, com nossas malas para a nossa longa peregrinação rumo a estação de trem Saint-Exupéry. Primeiro tomar o ônibus C14, depois o metro linha A, depois o tramway T3 e finalmente o ônibus L46 que nos deixa no aeroporto e de lá, por meio de uma passarela chegar a estação.

Dica 1: Esta é uma ótima opção para quem chegar a Lyon desde o aeroporto e não quiser pegar taxi: Apanhar o ônibus L46 em frente ao aeroporto, descer na parada final em Meyzieu ZI, daí ir até a parada do tramway T3 de mesmo nome, é fácil de achar o caminho, é perto e 99% das pessoas que descem aí vão apanhar o T3, o T3 leva até a cidade onde se pode apanhar o metro. A estação de metro mais integrada é Vaulx-en-Velan La-Soie na linha A, pronto uma vez no metro, vá para onde quiser. Se não estiver com paciência para tudo isso apanhe um taxi, a diferença é gastar € 50,00 em vez de € 4,00.

Dica 2: A opção de utilizar a tão distante estação Saint-Exupéry, em vez da central Part-Dieu, é simplesmente uma questão de preço. Existe um sistema de viagem chamado Ouigo, que vende passagens TGV, pela internet, bem mais baratas que as compradas diretamente na companhia ferroviária para os trens de carreira, a SCNF. Tem uma limitação de número de bagagens, mas se avisarmos na hora da compra pagamos uma pequena taxa por cada volume e continua valendo a pena. Só não pode deixar para na hora H aparecer com uma mala a mais, aí vai sair bem caro. Cuidado!!

Preços de passagens de trem variam terrivelmente na Europa, as diferenças de preço para uma mesma viagem podem chegar a 3 vezes. É aí que o turista dança, nem sabe os caminhos nem tem tempo para planejar a forma mais barata. Uma coisa aprendi: a Europa é muito mais cara para os turistas do que para os que lá vivem e residem.

Meu amigo Ailton, que partiria no dia seguinte se despediu de nós com um aceno na varanda. Deveria ter fotografado isso, esqueci.

Depois dos vários transportes e deslocamentos, chegamos na estação, entramos na área de embarque e esperamos o TGV azul da Ouigo chegar para nos levar até Paris. Ah, sim! Tem um detalhe com o Ouigo, não há opção de escolha dos assentos, apenas podemos informar se preferimos ir embaixo ou em cima, mas eles avisam que não podem garantir que a preferência será atendida, fazemos a compra e depois recebemos um voucher pelo e-mail com todas as informações, inclusive os assentos, mas não há problema, pessoas incluídas na mesma compra compõem um único voucher e são colocadas juntas, só tem que tomar cuidado para não fazer uma compra incluindo A, B, C e depois outra para D, neste caso o assento de D poderá ser tão longe quanto o comprimento do trem permitir.

O conforto do trem nada deve ao TGV comum, a única diferença é que não tem vendas a bordo de comida e bebida, o que não significa nada para uma viagem de 2 horas, e se você é daqueles que tem de comer a bordo, sem problemas, leve sua marmita, afinal o trem é uma farofada danada e ninguém vai estranhar. Aliás, mesmo nos trens de carreira o pessoal faz farofa. Que mania de comer abordo!

O trem Ouigo não chega na estação Lyon (Gare de Lyon, que é a estação dos trens de carreira) em Paris, ele chega em Marne-la-Vallée - Chessy, a estação da Disney e aí compramos um bilhete no RER para Paris, o RER se interliga com o metro parisiense. O crítico é que todo mundo que chega no Ouigo, vai correndo comprar o bilhete do RER, resultado, sempre há uma imensa fila para a compra, porque este trem está sempre lotado. Nada que torne a opção inviável, apenas temos que ter paciência para esperar entre 30 a 45 minutos na fila. Os apressados ficam de pé em frente a porta do trem 30 minutos antes dele chegar na estação, quando a porta abre é uma correria arrebatada e louca subindo as escadas para chegar primeiro na fila. Nas 3 vezes que usei o trem não entrei nessa pilha!

Bem, hoje não há muito a dizer, apenas agradecer, agradecer o tempo que passamos em Lyon, a visita dos nosso amigos, os muitos lugares que conhecemos ao redor e além, os quais me dão material para continuar alimentando o blog após a despedida de Lyon, enfim tudo.

Quando comecei a escrever sobre esta viagem é que vim descobrir o quanto vi e aprendi. Quantas coisas se desenvolvem ao nosso redor, e quantas destas coisas estão cheias de lições, e quantas destas lições nós jogamos fora por que esquecemos!

Escrevendo nos lembramos de muitas coisas e somos obrigados a ir buscar aquelas que se enfiaram no baú das memórias e se perderiam se não exercêssemos a atividade da escrita.

Escrever é uma atividade maravilhosa, e a grande maravilha é o trabalho que dá. Escrever nos obriga a usar a memória, o raciocínio, a organização, a paciência a auto crítica. Nos ensina a rever nossos erros, por que quando terminamos um texto e pensamos que está pronto, vamos lê-lo e descobrir que tem um monte de coisas que não gostamos, e aí só existe um remédio, escrever novamente, procurar novas formas. Além disso quando escrevemos, nos lembramos de coisas que fizemos, não queremos fazer novamente e já havíamos quase esquecido que a tínhamos feito. E se esquecemos, fazemos outra vez.

Então há algo mais a agradecer, estar escrevendo sobre tudo.

Agradecer aos que leem! Agradecer as minhas anotações, aos registros fotográficos, muitas fotos tiradas por mim, outras por amigos. Agradecer aos meus dedos que teclam, teclam sem reclamar, minhas pernas que me permitem andar pelo mundo, à minha memória, agradecer aos meus olhos que olham e veem. Agradecer a minha mente que aprende. Agradecer ter tanto a para agradecer que nem consigo lembrar dos pontos a reclamar.